Artigo publicado em minha coluna na Folha de Campinas.
Duas das principais queixas que recebo com frequência dos pais em meu consultório, é a dificuldade de falar com os filhos sobre sexo e qual o momento ideal para conversar com eles sobre esse assunto.
Não existe uma idade certa ou uma receita que funcione igual para todas as famílias, mas existem caminhos e é preciso considerar o contexto familiar e o ambiente.
Os pais precisam estar atentos à criança e aproveitar elementos diários do cotidiano para introduzir o assunto de maneira natural. Um exemplo, na hora do banho, dizer para os pequenos que cuidar do corpo é importante para ter saúde, explicar que o corpo do menino e da menina tem diferenças. Se as crianças forem maiores, pode-se aproveitar uma reportagem de TV ou revista ou algum assunto que surja sobre namoro, o nascimento de um bebê e usar como gancho para introduzir a conversa.
Mas, antes de qualquer coisa é preciso fazer algumas considerações. Desde cedo a criança precisa perceber que os órgãos genitais são partes do corpo como qualquer outra, (nariz, boca, orelha). Portanto, deve-se usar os nomes apropriados com naturalidade. Vulva para os órgãos sexuais externos da menina (e não vagina) e pênis para o menino, simples assim.
Quando a criança é muito pequena pode-se falar pipi e xaninha, mas o ideal é, o quanto antes, dar o nome correto, para que não seja um tabu no futuro. Afinal, qual é o problema?
É importante ressaltar que sexo e sexualidade não são a mesma coisa. Primeiro ensina-se sobre sexualidade, que envolve o corpo, os sentimentos, as emoções, o prazer e os relacionamentos. Quando ensinamos a criança a ter cuidados com o corpo, transmitimos conceitos importantes sobre saúde, autoproteção, bem estar e autoestima.
À medida que ela cresce, ela começa a perceber que outras crianças têm características diferentes, umas têm olhos puxadinhos, são os orientais, outras são negras, outras loiras, há aquelas que têm olhos azuis, e assim por diante. Essa é uma excelente oportunidade para os pais ampliarem a educação sobre sexualidade, introduzindo conceitos sobre socialização, ou seja, o respeito às diferenças, tomando o cuidado para não qualificar ou desqualificar uma ou outra etnia, pois todos são seres humanos.
Pode-se aproveitar a oportunidade para falar que existem pessoas que têm algum tipo de deficiência e que todas merecem o nosso mais profundo respeito. Dessa forma, os pais ajudam os filhos a se tornarem mais autoconfiantes, além de contribuírem para o seu desenvolvimento emocional e a qualidade dos seus relacionamentos.
Se a criança fizer uma pergunta inesperada: “é verdade que o bebê sai pela vagina?” Disfarce a sua surpresa, relaxe e diga que sim. Nunca minta, pois quando ela descobrir que você mentiu, não confiará mais em você. Responda apenas o que ela perguntou sem dar detalhes. Isso será suficiente para satisfazer a curiosidade dela e vai aumentar a confiança que ela tem em você. É fundamental que a criança aprenda desde pequena que a sexualidade é algo bonito e prazeroso.
E finalmente, para falar de sexo sem embaraços ou rodeios, sugiro que o casal primeiro converse, entre si, sobre suas próprias dificuldades sexuais e procure resolvê-las.
Pai e mãe devem estar empenhados na educação sexual dos filhos. Essa tarefa não deve ser delegada para um ou para outro e muito menos para a escola. O mercado também já dispõe de livros sobre o tema. A educação sexual em casa fortalece o vínculo entre pais e filhos, aumenta a autoestima da criança e contribui para o desenvolvimento da personalidade e sexualidade dos jovens, além de protegê-los de doenças sexualmente transmissíveis, aids e gravidez não planejada. A escola tem o papel de dar continuidade à educação sexual, mas os valores devem ser transmitidos em casa.
Quanto mais cedo você começar, mais fáceis serão as futuras conversas.
Carmen Janssen
Psicanalista, sexóloga, escritora e conferencista internacional.