Mais um ano termina. As pessoas renovam as esperanças e distribuem votos de saúde, paz e amor. Mas, será que o discurso natalino é condizente com a prática da nossa realidade diária?
Meu caro leitor pode estar se perguntando: – por que teria a autora escolhido este tema, entre tantos outros, para falar de socialização?
Simples. Porque esse é um dos tabus mais populares que afetam a nossa sociedade. Falar de homossexualidade, além de necessário, possibilita a reflexão sobre educação e outros tipos de preconceito que transbordam no cotidiano da nossa sociedade.
Ao longo da história da humanidade, a homossexualidade já foi admirada e condenada, de acordo com as normas sexuais vigentes nas diversas culturas.
Em nossa cultura não fomos educados para aceitar a homossexualidade como algo natural. Mas, a ciência tem avançado e cada vez mais recebemos informações que nos ajudam a entender melhor o comportamento humano. Pais já podem contar com livros para ajudar a facilitar o diálogo sobre educação sexual. Esse é um trabalho que deve começar em casa, uma tarefa que ainda é difícil para a maioria dos adultos.
Mas, se não houver esforços para superação de preconceitos, como vamos ensinar os nossos filhos a respeitar as individualidades? Ou mesmo, aceitar um filho homossexual?
Uma das ideias equivocadas e ainda muito comuns em nossa cultura é que o comportamento homossexual pode influenciar os jovens. A falta de informação sobre a sexualidade gera diversos mitos que acabam provocando exclusão, intolerância e violência contra qualquer pessoa que fuja dos estereótipos sociais convencionais.
Brancos, negros, heterossexuais, homossexuais, bissexuais, transgêneros, não importa, somos todos seres humanos, apenas temos características diferentes.
‘Diversidade’, palavra que vem de ‘diverso’ [o que apresenta variedade, diferente]. Todos nós fazemos parte da diversidade humana.
Homos vem do grego antigo e quer dizer igual, phobos palavra também de origem grega, significa medo, fobia ou aversão e sexus de origem latina = sexo.
Hamlet, personagem de William Shakespeare, diz a Horácio: “Há mais coisas entre o céu e a terra, do que pode sonhar tua vã filosofia”. Em minhas palestras, costumo dizer que: “Há mais variedades de características humanas, do que pode supor a nossa vã filosofia”.
Algumas pesquisas científicas afirmam que a orientação sexual está relacionada aos hormônios, sendo determinada durante a gestação. Porém, alguns estudiosos defendem que o ambiente social, associado à figura dominadora do genitor, pode influenciar na questão da homossexualidade. Por outro lado, há também os que defendem que a genética é determinante. Mas, esses estudos ainda precisam ser aprofundados.
Para a Organização Mundial da Saúde e a Associação Brasileira de Psiquiatria a homossexualidade não constitui doença, nem distúrbio e nem perversão. Portanto, não se justifica tratamento e nem cura. No Brasil e em vários países o casamento entre homossexuais já é permitido. Por outro lado, ainda há países que aplicam penalidades severas e até pena de morte.
Vale ressaltar que não existe “opção sexual”. Ninguém acorda de manhã e diz: “A partir de hoje vou ser heterossexual”. Não é uma escolha, é uma orientação afetivo-sexual, um sentimento que se impõe. Daí o termo homoafetividade. Ou seja, no caso da homossexualidade, o afeto e o desejo são orientados para pessoas do mesmo sexo.
Os pais têm papel fundamental na transmissão de valores para os filhos. São os valores que vão determinar a qualidade de vida dos cidadãos. É preciso cobrar que as escolas capacitem os professores para a educação sexual e, todos juntos, se comprometam a buscar um caminho para diminuir o preconceito e a violência urbana.
Nossos votos natalinos podem se tornar realidade nos próximos anos. Mas, todos ainda temos muito trabalho, pois somente com educação seremos capazes de promover mais amor, saúde e harmonia na família e na sociedade.
Carmen Janssen.
Publicado na Folha de Campinas.
Imagem: Folha de Campinas.