Cada vez mais as pessoas estão valorizando os relacionamentos amorosos como um dos aspectos indispensáveis para sua satisfação pessoal ao longo da vida. Pelo menos é o que afirma a maior parte das pessoas, quando perguntamos. O romance, o carinho, a cumplicidade e o sexo seriam os principais elementos para a estruturação de um relacionamento amoroso duradouro e satisfatório.
A palavra “duradouro” nos remete ao tempo. A questão é, quando idealizamos um relacionamento afetivo-sexual para o resto da vida, será que fazemos, em algum momento, uma reflexão sobre a qualidade desse relacionamento na velhice?
Nossa cultura reforça cada vez mais o culto à eterna juventude. Envelhecer é quase proibido. E como não temos uma cultura que estimula a manifestação das relações amorosas na idade avançada, não nos preparamos para desfrutar, da melhor maneira possível, essa fase da vida.
Hoje em dia é muito comum os jovens levarem as namoradas ou namorados para dormir em suas casas. Mas, raramente, se vê um vovô ou vovó fazendo o mesmo. Essa atitude, no mínimo, seria considerada “uma pouca vergonha”, um “desrespeito com a família” ou no mínimo inadequado.
Ou seja, o nosso desejo de ter uma vida amorosa longa e satisfatória, acaba tendo um prazo de validade que nós mesmos determinamos pela cultura.
As pessoas reclamam que o carinho, o beijo na boca, os elogios, a sedução e o sexo, com o passar do tempo, vão ficando distantes na relação do casal. Mas, se paramos de praticar essas manifestações da sexualidade, enquanto ainda somos, relativamente, jovens, como será o nosso relacionamento amoroso na velhice?
A paixão tem prazo para acabar, mas o amor depende da nossa vontade.
O ser humano precisa de afago durante a vida toda. Os velhos sentem muita falta de amor e manifestações de afeto.
Nas culturas orientais os idosos são integrados à vida social e a sabedoria dos mais velhos é valorizada. Ao contrário do que acontece em nosso país e em outras culturas ocidentais, onde a pessoa de idade avançada, muitas vezes, é segregada das relações familiares. E isso se faz de diversas maneiras, o velho não entra na maioria das conversas, as pessoas não se interessam por seus conselhos, não olham em seus olhos, não têm paciência para acompanhar o seu ritmo e muito menos o incentivam a sair, a fazer amizades e até a namorar. Com raras exceções, não existe um interesse da família em promover condições para que essas atividades aconteçam.
Por outro lado, em muitos casos é o próprio idoso que se exclui das atividades sociais, usando a idade como pretexto. O mesmo acontece com a sexualidade que ele poderia expressar e desfrutar, respeitando o seu ritmo. Mas, como já incorporou os estereótipos culturais, escolhe fechar-se.
Um vizinho meu que tinha setenta anos, namorava uma pessoa de cinquenta e cinco. Os familiares dele até o incentivavam e ficavam felizes por ele ter uma companheira, mas não raro se ouvia comentários e brincadeiras, por parte dos parentes, “o velho é safado”.
Ora, até que idade as pessoas podem namorar sem serem tachadas de safadas pela a sociedade?
Os tabus e os preconceitos cegam a visão das pessoas sobre a totalidade da vida. O corpo se sobrepõe à essência. E assim, vamos ensinando os nossos filhos e construindo a nossa própria velhice.
Carmen Janssen
Psicanalista, sexóloga,
escritora e conferencista internacional.